abandonado de idéias é
possível que se veja
a espessura lisa de uma
identidade rasgada em tiras
as máquinas flácidas das
emoções de aleijão
quando as sirenes
penetram o fígado
e os cascos pisam fundo
uma esteira mecânica
de acertos velhos e
impossíveis conveniências
eu
quero também voltar a morrer
– sentir de novo aquele
gosto cinza –
e sei que não posso e
não irei mas resvala
em meus sentidos essa
paixão pelo medo
que me deixa mudo sempre
diante
de qualquer
inteligência boquiaberta e talvez fosse
impossível não fosse
esse cabresto de ouro
vaga colisão de
ambivalências controláveis
em suicídio lento cheio
de esperanças
de um vulto maravilhoso
às quatro da manhã
armas químicas de
madrigais
no inferno seco dos neurônios
a solidão ímpar da
burrice
o freio invencível do escárnio
na derrapagem de um
enigma que se esparrama
naquilo que vai morrer
de tanto se acertar
e periga não haver mais
idéias genuínas
é o que dizem somos
dantes sem dentes
numa irrupção de egos
sub-cômica
em festas regadas a
tinta guache
em nossas almas
violadas de silêncios
intransponíveis
dos quais rimos entre
nós sempre nas vezes
em que chove muito e ficamos
ilhados
então não podemos desesperar
a fuga
esse amor entre
estranhos
vendados que decidem pelas
mãos
porque é preciso ao
menos dois para não saber nada
entanto as palavras
fogem pelo corrimão dos milagres forçados
a tolice mansa senta-se
no trono de um adeus que falta
em vibrar nos bolsos do
casaco de poeta
do qual se diz: é um
casaco de mendigo
raspas de compreensão
nas sobras do almoço sobre a mesa
chegaste ao ponto de
ter uma mesa e isso te envergonha
no ritmo do milagre
também é tua a derrapagem
nos lugares escuros que
ainda amas e que te fizeram
miséria preciosa de uma
terrível humilhação
nas caneletas do medo
escoar a água das montanhas
aquelas mesmas da queda
infinita e sem cura
e juntas as mãos se apóiam
em fé reversa
já não está em seu
domínio a nova semelhança
as luzes brilham mas as
mãos não alcançam
no pudim do tempo senta
bunda sadia mas tu
como pedinte tens a
elegância de um deus ruim.
Um comentário:
... E que me pune sem haver cometido delito algum!...
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