você desaparece para
sempre
a cada encontro desde
sempre.
essas curvas a que
damos nomes
de pessoas, cidades,
continentes,
desaparecem na borracha
quente
dos afetos, do que
segue entrando e saindo,
deixando para trás a
culpa
de não ter sido muito porque
não foi possível
ser de uma vez tudo que
era possível ser.
não se pode querer o
que é dado:
o desejo extermina o
mérito.
fomos dados um para o
outro,
nascemos um para o
outro por isso,
para estarmos
disponíveis,
ainda que às vezes
mortificados,
um para o outro a toda
hora.
outra vez não fiz o que
você pediu,
não esperei a poeira do
caos baixar,
não contei dias, não
pude ser muito.
eu nunca fiz o que você
pediu e veja,
aqui estamos nós dois mais
uma vez.
de certa forma, te
ouvir, como sempre,
mesmo quando nunca
houve uma saída,
me ajudou a ganhar um
pouco de tempo.
aqui em casa, agora, os
gatos dormem,
eles dormem de dia e
azucrinam à noite,
estou ouvindo leonard cohen,
porque ele
sempre me lembra você, veja
você, toda
aquela alfaiataria
judaica super-chique,
e mesmo assim ele me
faz pensar em ti.
os gatos dormem a tarde
toda, mais ainda
quando ponho essas
músicas com violino,
e meu amor está em ti
porque eu vim dele.
logo mais almoçaremos
desatentos juntos,
as pazes refeitas porque
se pode abraçar,
e pensaremos um no
outro mais uma vez
sem nos dar conta de
que esse pensar agudo
e bastante estupefato um
no outro é a força
do sangue na passagem
perigosa do segredo.
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