11.8.18

“deus maneta”



nada se revela ainda,
é cedo para não tentar mais uma vez.
aqui se vai mais um pensamento
no lugar de um espelho bom.
fluindo escapando em recalques
sobre como ser um nanico
em meio a gigantes ciclopes
com olhos de anzol e fúria.

melhor a pele em ganchos
nas carnes da minha culpa.
gritar seria a mão do gênio,
mas organismos esperam
todo um ciclo de catástrofes
para o que sempre se calou
transformar-se noutra língua.

aqueles que amamos mais –
mortos que embelezam a vida
com sua pitada d’eu-estive-lá.
torcer o nariz depois cair de joelhos
é ritmo para um herói romano
– uma cartilagem reta de tesão –
e levo comigo um nariz indígena
e na minha testa não percebo
o que vai escrito enquanto evoco
serenidade nas ruelas do meu ser.

caído do mastro observo impune
a fuga repentina da tripulação,
enquanto machados de plumas
aguardam a cabeça hesitante,
querente dos prazeres mesmos
que beiravam as cartas de napoleão.

rumo à antipatia que trazem
os amantes joviais muito magros
a quem prejudico com sorrisos
de silêncio viril sedento de ternura,
aquele mesmo silêncio de faca
tão calmo que nos completa.

ruborizo na imensidão da minha fraqueza,
dou a curva na piedade com escoriações,
vago no óleo de uma máquina em apuros,
nova centopéia cega com suas cem patas,
na boca de um eclipse na juba de um leão,
uma nova máquina me domina em mim.

voltei a violentar as palavras
naquele caderninho sem pauta,
talvez de medo que elas venham
quando eu não estiver pronto.

ainda posso ver um rapaz magro
cheio de poeira e queixo prognata,
esse já não virá mas não me larga.
entender o caos que me abandona
enquanto o carro das revoluções
passa diante dos meus olhos acesos.
num fim de feira fixo a preço baixo
vejo meus amigos tornarem-se bustos.
minha bondade arranca a mão de deus.


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