os tambores africanos
do leblon
não são capazes de
conter
nossas pernas na
direção
de uma precisa
qualidade
de estar outra vez
juntos.
não somos mais tão jovens
mas cabemos ainda
apertados
em banheiros com
revistas
de psicanálise para
fazer cocô.
piscamos uns para os
outros
dos lados oblíquos da
sala
onde os que menos fazem
esforço
para serem joviais são
os velhos,
por isso resplandecem
enquanto
estamos com as mãos no
coldre
e o couro ralo do afeto
persiste
em nossas roupas
geracionais,
em nossos olhares de
matilha.
na festa tudo é um
esforço fraco –
copos se espatifam no
vinho sagrado
das nossas patas de cascos
infames.
trazemos interrogações
amarrotadas
na estação festiva dos
olhos virados.
usamos um tom de charme
assassino
na ansiedade dos
espaços coletivos.
enquanto dizemos aos
punhos
poemas que amamos na
janela
o mundo não dá mostras
claras
de que finalmente vai
acabar.
somos uma xícara de
café expresso
com lágrimas de toda
uma geração.
não posso ouvir
tambores africanos
em termos lúdicos –
isso é coisa séria.
levo tudo o que não
conheço tão a sério,
às vezes é enfadonho,
às vezes é santo.
queria girar de olhos
fechados e então receber
em meu coração todos os
tambores do leblon.
na janela penso que os
cabelos
de todos os donos do mundo
são sempre os mais
feios
mesmo quando são
perucas
e mesmo uma peruca cara
continua sempre sendo
feia
– este pensamento me
alivia.
fora da festa o
silêncio toma as ruas
de mais um perplexo sábado
à noite.
entre as poucas
possibilidades,
ainda assim é difícil
escolher.
da janela tenho
dificuldade de imaginar
este bairro vazio
tomado em armas.
de alguma forma meus
olhos prevêem
este silêncio todo
formado em fogaréu.
sinto pela nuca o
calafrio truculento
de quando o corpo exige
o que fazer.
de repente o banheiro
fica apertado,
mastigo plástico como
fosse alface.
as mãos vazias de um
pai de família
e o coração constipado
de um padre.
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