21.6.18


Love in the Asylum (Dylan Thomas)

A stranger has come
To share my room in the house not right in the head,
            A girl mad as birds

Bolting the night of the door with her arm her plume.
            Strait in the mazed bed
She deludes the heaven-proof house with entering clouds

Yet she deludes with walking the nightmarish room,
            At large as the dead,
Or rides the imagined oceans of the male wards.

            She has come possessed
Who admits the delusive light through the bouncing wall,
            Possessed by the skies

She sleeps in the narrow trough yet she walks the dust
            Yet raves at her will
On the madhouse boards worn thin by my walking tears.

And taken by light in her arms at long and dear last
            I may without fail
Suffer the first vision that set fire to the stars.

***X***

Amor no Manicômio (Dylan Thomas)

Uma estranha chegou
Para compartilhar meu quarto meio ruim da cabeça,
            Louca como os pássaros

Trancando com seu braço sua pluma as portas da noite.
            Na cama labiríntica presa
Ela engana a malograda casa com nuvens que invadem    

Ainda assim engana entrando no quarto horripilante,
            Feito a morte, imensa,
Ou cavalga ondas imaginárias na ala dos rapazes.

Ela entrou possessa,
Ela que admite a luz enganosa na parede que treme,
            Possessa pelos céus

Dorme estreita com os porcos mas caminha na poeira
            Mesmo assim delira
Nas tábuas da casa de loucos exausta da minha choradeira.

E tomado pela luz dos seus braços eu posso finalmente,
             No instante definitivo,  
Sofrer a primeira visão que lança fogo às estrelas.


12.6.18

“enquanto falávamos de poesia numa festa drag no leblon”



os tambores africanos do leblon
não são capazes de conter
nossas pernas na direção
de uma precisa qualidade
de estar outra vez juntos.

não somos mais tão jovens
mas cabemos ainda apertados
em banheiros com revistas
de psicanálise para fazer cocô.

piscamos uns para os outros
dos lados oblíquos da sala
onde os que menos fazem esforço
para serem joviais são os velhos,
por isso resplandecem enquanto
estamos com as mãos no coldre
e o couro ralo do afeto persiste
em nossas roupas geracionais,
em nossos olhares de matilha.

na festa tudo é um esforço fraco –
copos se espatifam no vinho sagrado
das nossas patas de cascos infames.

trazemos interrogações amarrotadas
na estação festiva dos olhos virados.
usamos um tom de charme assassino
na ansiedade dos espaços coletivos.

enquanto dizemos aos punhos
poemas que amamos na janela
o mundo não dá mostras claras
de que finalmente vai acabar.

somos uma xícara de café expresso
com lágrimas de toda uma geração.

não posso ouvir tambores africanos
em termos lúdicos – isso é coisa séria.
levo tudo o que não conheço tão a sério,
às vezes é enfadonho, às vezes é santo.

queria girar de olhos fechados e então receber
em meu coração todos os tambores do leblon.

na janela penso que os cabelos
de todos os donos do mundo
são sempre os mais feios
mesmo quando são perucas
e mesmo uma peruca cara
continua sempre sendo feia
– este pensamento me alivia.

fora da festa o silêncio toma as ruas
de mais um perplexo sábado à noite.

entre as poucas possibilidades,
ainda assim é difícil escolher.

da janela tenho dificuldade de imaginar
este bairro vazio tomado em armas.
de alguma forma meus olhos prevêem
este silêncio todo formado em fogaréu.

sinto pela nuca o calafrio truculento
de quando o corpo exige o que fazer.
de repente o banheiro fica apertado,
mastigo plástico como fosse alface.
as mãos vazias de um pai de família
e o coração constipado de um padre.   

8.6.18

“maninho”

para italo diblasi

vejo uma cidade linda e cinza
saindo das tuas palavras –
prestes a se acabar.

sei que hoje vais ver um filme
com alguém que te ama –
tenho feito coisas assim.

quem diria, maninho, nós dois!
às vezes fico meio pasmo
por gostar tanto de ti.

passei a semana numa banheira
tomando banho de espuma
e sentindo prazeres fáceis.

acho que ser rico deve ser duro.
veja quantos se suicidam
e sempre dizem: mas ele!

fato é que voltei e já era hora!
eu gosto de sentir as ruas
que você descreve bem.

nossas tripas escalam o maciço
desse desalento visual –
nossas almas rangem.

nosso apocalipse é mais doce
porque morremos juntos
e nunca nas horas vagas.