gritamos e apontamos
dedos
um para o outro porque
somos
dois operários exaustos
de folga
dois operários que não
sabem
se poderão sem perder a
vida
permanecer operários
não artistas
porque artistas são tua
coca-cola zero
artistas são meu
pão-doce subindo a escada.
simbolizamos juntas
doídas e fuligem
despejadas em nossa
cara comum.
gritamos um com o outro
porque
o amor é uma palavra
paupérrima
o amor é um operário de
fábrica
ele precisa torcer-se
ao meio para
que os descansados
procriem futuro.
o amor é um sofrimento
dizia
aquela atriz
melancólica
que achamos muito velha
para fazer aquele papel
e eu argumentei mas em
1905
ter trinta e cinco era
ser velhíssimo
e ser melancólico era
ter juventude.
gritamos um com o outro
apontamos
nossos dedos porque
queremos mostrar
ao amor o caminho essa
peste bubônica.
um pouco mais para a
esqueda direita
passos rápidos agora
sente no meu colo.
gritamos um com o outro
ainda temos
dedos porque somos um
ponto vermelho
no mistério negro arco
da estratosfera.
gritamos um com o outro
você adoece
tenho raiva porque teus
olhos queimarão
de febre por algo que
não será mais eu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário