22.7.17

“você adoece”


gritamos e apontamos dedos
um para o outro porque somos
dois operários exaustos de folga
dois operários que não sabem
se poderão sem perder a vida
permanecer operários não artistas
porque artistas são tua coca-cola zero
artistas são meu pão-doce subindo a escada.

simbolizamos juntas doídas e fuligem
despejadas em nossa cara comum.

gritamos um com o outro porque
o amor é uma palavra paupérrima
o amor é um operário de fábrica
ele precisa torcer-se ao meio para
que os descansados procriem futuro.

o amor é um sofrimento dizia
aquela atriz melancólica
que achamos muito velha
para fazer aquele papel
e eu argumentei mas em 1905
ter trinta e cinco era ser velhíssimo
e ser melancólico era ter juventude.

gritamos um com o outro apontamos
nossos dedos porque queremos mostrar
ao amor o caminho essa peste bubônica.

um pouco mais para a esqueda direita
passos rápidos agora sente no meu colo.
gritamos um com o outro ainda temos
dedos porque somos um ponto vermelho
no mistério negro arco da estratosfera.

gritamos um com o outro você adoece
tenho raiva porque teus olhos queimarão
de febre por algo que não será mais eu.

Nenhum comentário: