nalgum ponto do dia ou
nalgum ponto da noite
em
qualquer cidade em que
esteja,
guardo os sacos bons,
os resistentes,
sacos fortes onde caiba
todo lixo.
geralmente são
amarelos,
poucas vezes cor de
rosa,
muitos sacos vem
furados
e, através dos furos no
plástico,
posso ver meus pés destruídos.
tornei-me, vagarosamente,
nos intervalos dos
golpes,
um recolhedor de sacos
bons,
sempre à procura do
mais firme,
do mais gracioso e
colorido saco.
por vezes me bato com
as velhinhas
nas padarias e nos
supermercados,
elas, com menos tempo
que eu,
também sabem quanto
vale um saco,
um saco firme,
resistente, para todo lixo.
com menos tempo elas
precisam de sacos
ainda mais confiáveis
do que eu,
porque, com tantos
sacos frágeis e furados
que passam pelas mãos
de uma pessoa,
se faz um lixo pesado,
um lixo de pedra.
às vezes tenho pena de
usar sacos bons
quando o lixo ainda não
está pela boca.
me parece um desperdício
de firmeza
e nessas horas recorro aos
sacos piores
na expectativa de não
me sujar demais.
ontem consegui dois
sacos ótimos,
um verde cor de bosta
de cavalo,
como os olhos tristes do
meu pai;
um azul como imagino
ser a morte,
um lugar sem lixo e sem
sacos plásticos.
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