para bichita
quando você viaja
por um ou dez dias
eu deixo de ler os
vivos
eu perco o sonho na
rua
violo a desgraça da
vida.
quando você viaja
as coisas ficam todas
me olhando com raiva
eu me ressinto de falar
e nunca eu falo tanto
quanto quando você
viaja.
no primeiro dia os
gatos
se aproximam como
padres
para uma extrema-unção
sem ti eles vivem
porque
podem me cuidar
pobre de mim
a quem resta alisar
seus pelos pois que os
gatos
eu sei são o elo da
nossa loucura
nesse mundo de adultos.
mais à noite escarro
tufos
inapeláveis porque você
entorta meus ponteiros
arromba meus instintos
e eu sei que a situação
é preocupante eu deveria
estar falando sobre
a experiência
acachapante
de estar vivo num mundo
que enlouqueceu eu
queria
fazer um poema sobre sermos
fortes e dignos apesar
de tudo
enquanto ainda precisarmos
salvar o mundo de nós
eu gostaria de fazer um
poema
que servisse para
alguma coisa.
inevitavelmente você
viaja
por um ou dez dias você
crava as garras no mapa
e me firo com as esporas
de uma vida sem salvação.
os amigos ainda falam
parecem todos que bom
mais lúcidos do que eu.
alguns acenam do outro
lado da rua no que surdo
meu coração estremece.
então a rua se arromba
nesse abismo intocável
violácea lembrança
de meus pulsos ruins.
eu preciso ouvir você
respirar no meu ouvido
e mesmo com sinusite
eu quero que você volte
para rachar meu crânio
com espadas de amor.
durmo e não transpiro
enquanto te imagino
amazona inquebrantável
arrastando com
distância
meus planetas mortais.
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