27.6.17

"poema de fazer rir"


tenho  lido poemas engraçados
sobre como a vida tem sido polaca
espremida como laranja nas vielas
das nossas imensas frustrações.

sem que nos dessem maquiagem
aprendemos a fazer rir e chorar
talvez a única coisa que assuste
os mal-humorados que mandam.

quanto mais batem, mais rimos
parece que também fizeram isso
muitas vezes em horas históricas
como na comuna e nas prisões.

se não delatamos nos batem mais
é quando os poemas se colorem
e os dentes caem num estilhaço –
estamos muito juntos nessa hora.

não sei se os poemas fazem rir
porque nos amamos ou porque
temos medo de perder o amor
que inventamos por tão tê-lo.

doces são os vícios do medo
o que ele acomoda em vasos
quando rimos do que à frente
mata rindo porque é sem saída.

queridos poetas, amigos rindo
permaneçam mesmo quando
eu estiver sob a corda rígida.

levarei o desespero dos lábios
como se fosse a maior coragem.
você eu levarei na gargalhada
daquele que viu, mas sem tocar
e do que viu pôde fazer a cópia
para pôr em poemas sem risco.

a vida é dura sem teu velho lirismo,
um roupão usado por um gênio dopado.
ser ingênuo tem a vantagem de ser belo,
então corres, fraturas, gargalhas, temes.
por onde vais, já ninguém mais cogita.
o que temes, trata-se disso em reuniões fechadas.

a vida é dura sem um cometa,
ser mais velho é não poder errar e errar mais
às vezes forjar que erra menos, sabendo a verdade.
de dia atuas, dás voltas e voltas, falas rápido,
mas tremes com o gesto discreto do outro.
estás completamente rouco da fala do mundo
e no fundo pensas que estás noutro planeta,
onde os poemas foram feitos para fazer rir
e a vida que tentamos viver para fazer morrer
tudo o que neste poema iria melhor calado.
.


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