tenho lido poemas engraçados
sobre como a vida tem
sido polaca
espremida como laranja
nas vielas
das nossas imensas
frustrações.
sem que nos dessem
maquiagem
aprendemos a fazer rir
e chorar
talvez a única coisa
que assuste
os mal-humorados que
mandam.
quanto mais batem, mais
rimos
parece que também
fizeram isso
muitas vezes em horas
históricas
como na comuna e nas prisões.
se não delatamos nos
batem mais
é quando os poemas se
colorem
e os dentes caem num
estilhaço –
estamos muito juntos
nessa hora.
não sei se os poemas
fazem rir
porque nos amamos ou
porque
temos medo de perder o
amor
que inventamos por tão
tê-lo.
doces são os vícios do
medo
o que ele acomoda em
vasos
quando rimos do que à
frente
mata rindo porque é sem
saída.
queridos poetas, amigos
rindo
permaneçam mesmo quando
eu estiver sob a corda
rígida.
levarei o desespero dos
lábios
como se fosse a maior
coragem.
você eu levarei na
gargalhada
daquele que viu, mas
sem tocar
e do que viu pôde fazer
a cópia
para pôr em poemas sem risco.
a vida é dura sem teu velho
lirismo,
um roupão usado por um
gênio dopado.
ser ingênuo tem a vantagem
de ser belo,
então corres, fraturas,
gargalhas, temes.
por onde vais, já ninguém
mais cogita.
o que temes, trata-se
disso em reuniões fechadas.
a vida é dura sem um
cometa,
ser mais velho é não
poder errar e errar mais
às vezes forjar que
erra menos, sabendo a verdade.
de dia atuas, dás
voltas e voltas, falas rápido,
mas tremes com o gesto
discreto do outro.
estás completamente
rouco da fala do mundo
e no fundo pensas que
estás noutro planeta,
onde os poemas foram
feitos para fazer rir
e a vida que tentamos
viver para fazer morrer
tudo o que neste poema
iria melhor calado.
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