2.5.17

"morre enfim belchior"


eu estava tendo uma terrível recaída
enquanto você morria num quartinho
perdido na parte sul que nos envolve.

você se voltou para dentro e morreu na santa cruz
daqueles que tatuam a pele quando doem de amor.
você morreu e eu talvez tenha perdido o amor.
você saberia me dizer a diferença disso tudo...

mas você não dirá mais nada e permaneceremos
como os robôs sem amor da tua ideia mais limpa.

entrei numa confusão, recaí, estava do lado certo
mas quebrei os óculos e não posso outra vez pagá-los.
talvez porque no fundo eu teime em não ver tudo.

e agora que você morreu, recair tornou-se um crime.
agora que talvez aos olhos do amor eu tenha morrido
você parte ao mesmo tempo enquanto eu não choro.

do meu modo lutarei tua morte como uma guerra.
tua ausência me dará certeza de que preciso ser bom.
a cada dia até o fim retomar o que se perdeu de amor
dar o que nem se tem com mãos cavadas em sangue.

eu te amo porque sou contigo um desterrado lírico
alguém sem chance alguma que ainda quer mais.
você gritou as feras por dentro da carne maltratada
você se mandou e deixou um arbusto de dúvidas
telegrama infinito tarde esquecida da nossa intuição.

porque é preciso sempre voltar para o interior –
é nossa única chance de abandonar as regras e ir.
você provou do veneno e fez dele um rega-bofe –
ainda precisamos escrever a canção da tua faca.

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