chove
enfim na cidade,
na
cidade em pânico,
depois
de dias bíblicos
num
deserto de gólgota,
depois
de meses de gelo,
de
anos de convulsões
inúteis
e maravilhosas.
mas,
agora, neste segundo,
o
calor arrefece, a água
impõe
o cheiro de entranhas,
que
sobe e lava o pútrido
parado
de meses, o gelo
sujo
de meses, os anos
estomacais
de milênios.
agora
pelo menos posso
estar
nu ouvindo cair
o
que não se sustenta
e
cai como um morto
em
meus braços, penso,
mas
em muitas casas,
neste
segundo, enquanto
bato
as teclas, outros
antiquados,
espantados
com
o calor dos dias,
com
o gelo dos meses,
com
o vômito dos anos,
também
eles devem estar,
eles
hão de estar fodendo,
em
homenagem ao sol
que
dá lugar a lua cheia,
que
hoje, gigante, não vira,
numa
atípica sexta-feira treze,
um
segundo longe do terror,
aproveitando
a brecha,
fazendo
a fuga no deserto,
quando
me dou conta de que
tenho
perdido, na guerra,
isqueiros
placidamente.
que
isso tenha duração aqui
até
os próximos incêndios.
Um comentário:
tenho perdido, na guerra,
isqueiros placidamente.
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