20.1.17

"lamento para helder"



machados dentro se devotam
em te espremer pelas estradas
inseguras e te sentes o tempo
todo prestes a sorrir ou morrer.

dançamos de olhos fechados
uma valsa constipada de luz,
que insistimos em confundir
com o aparecimento da saída.

o rio da memória seca ao sol
de um meio-dia camusiano
quando nada pode impedir
os olhos de vibrar impasses.

não tens mais vinte nove anos
e nem te lembras mais quando
herberto helder morreu, como,
por que pensas agora no poeta.

é preciso incrementar a farsa
para o machado pegar fôlego
enquanto as sereias se calam
no engano magnífico da noite.

algo escuro grita no tímpano
das calçadas, no que perdes
teu passo e necessitas criar
tua elegia múltipla de ruínas.

uma a uma caem as pilastras
sobre teu teatro grego infiel.
palavras caem como aviões,
a chance morre ao meio-dia.

mas de algum modo te preciso,
no contorno de um resmungo,
na imprecisão da paternidade,
forço dentro de mim teus dias.

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