31.3.15

"há uma baleia na sala"


temos processado
excesso de informação
e arquivos danificados
sobre o fato irrefutável
de que há uma baleia na sala
– perceba-se –
que no mais leve mover
de sua cauda,
um mundo novo desaba
e renasce,
porque a baleia é o inventor
de nós mamíferos
e se pudéssemos
jorrar água salgada
para cima não estaríamos
afogados – perceba-se –
há uma baleia que se afoga
pois é mamífero e veja
os pulmões cheios
de velhos testamentos
impostos a todos nós
– os mamíferos –
navegadores inaptos
entre cachalotes e jubartes.

algumas espécies escapam
ao catálogo e o bestiário
inclui novas entradas:
há marujos entre as bestas,
o mar como início, indício
de graves implicações;
o pulmão submerso
que não permite
a total aclimatação.

um dia sentirão falta
dessa vagarosidade,
dessa imensa carga
em seu balé artístico,
e agora cava os tacos
enquanto, abraçados,
ouvimos a promessa
da possível estiagem,
da estação prometida.

como prescindir
das brânquias?
nada há de conferir
maior consciência
pecilotérmica
ao sangue: o sol,
termostato primeiro
do que se deve fazer
com o fato irrefutável
de que há uma baleia
na sala que inunda.

Um comentário:

Isadora P. disse...

há mais do que uma baleia na sala.

o bestiário só cresce, independente da nossa vontade.