23.3.15

"de máquinas e guerras"


o lar são as lascas do amor,
elas se desprendem dos tubos,
das argamassas e dos cupins
em seu bacanal de madeira,
elas despejam ou bloqueiam
nossa existência encharcada.

faz frio e nos ambientamos
forçosamente a uma condição
de cachecóis e névoa de veludo.      
na ignorância da nossa bondade
e da nossa tentativa, as coisas
começaram a desabar logo cedo.

vesti uma calça cheia de fungos
e fomos, entre os escombros,
providenciar uma continuação
para as montanhas tirolesas
de nossos profundos anseios.

agora compartilhamos as gotas
de uma tempestade ultrapassada.
agora é o fim da noite tenebrosa.

nos procuramos entre os lençóis
nas trincheiras da madrugada.
há entre nós dois montanhas
de penas leves que cheiram
a penas de animais sensíveis.

as noites são guerras silenciosas
com lembranças embaralhadas
e perigosas, você não percebe,
e recorro ao teu corpo para não
deixar soltar por demais o meu.

desejaria que esta manhã cinza
sinalizasse uma pausa em toda
sabedoria maquinal do homem.

as máquinas aqui estão lentas,
meu amor, porque as criamos
para que elas substituíssem
a tão ansiada rapidez em nós.

Um comentário:

Isadora P. disse...

"as noites são guerras silenciosas
com lembranças embaralhadas
e perigosas, você não percebe,
e recorro ao teu corpo para não
deixar soltar por demais o meu."

eu percebo sim.