sonho com ondas enormes
e uma multidão de habilidosos
nadadores tomados pelo medo
e então acordo e penso em ti
e choro um pouco porque sei:
tu és minha pessoa preferida,
revelas em pequenas páginas
que meu nome carrega o mar.
acordo e parece que choveu
depois de tantos dias infernais
mas eu não pude ver as gotas
por dentro da cápsula noturna,
vi só o mar as ondas enormes.
levanto-me para ser engolido
pelas coisas que ao meu redor
sem a outra metade das coisas
estão furiosas e me encaram
com sobrancelhas de atraso
e vejo a ereção dos objetos
como um motim pelo nada
que resta quando não damos
sorrindo o que poderá faltar.
não é uma boa manhã, amor,
mas choveu parece aqui tudo
está úmido e as coisas aqui
gemem pelo que completa
a coragem dos olhos fechados
mas houve alguma chuva
pequenina talvez como palavras
num minúsculo caderno
capazes de fazer chover
e me fazer chorar um pouco
diante dos legumes pálidos
que cozinharei no almoço.
a comida está pronta e eu
devo ainda escoar um pouco.
tu és minha pessoa preferida,
a que não vejo enquanto nado.
estou também no maremoto
com outros bravos nadadores
desamparados vivos de terror.
e do outro lado dessas ondas
me espera à distância o amor,
a frágil promessa de netuno
às nadadeiras do naufrágio.
Um comentário:
Leo, esse é um dos poemas mais lindos já escritos.
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