3.2.15

"baby bat"


morcegos não dormem à noite,
mas então o que eles fariam
numa noite como esta noite?

dormir já não será possível,
a noite é a nossa epidemia,
a febre alta, o clamor da azia,
a espera fria pela ideia alada.

mas de dia não batem as asas,
de noite há tão pouca comida.
os morcegos, minha querida,
são os olhos de pensamento,
fermento das horas rasgadas
nas asas chocadas ao muro.

o morcego é um bicho surdo
cujos fantasmas são varetas
que acarinham a sua queda,
que estimulam a sua besta.

mas morcegos não dormem,
são esquivos escravos da noite.

e também não são tão feios,
mas coragem é indispensável
para olhar morcegos nos olhos.

e que prazer não terá o valente
quando beleza tão pura revelar
o exaustivo trabalho do oblívio,
a faca sem fio da poesia latente.
nos olhos de um morcego vivo
feiuras falarão a voz do carinho.
dizem que há morcegos no mar.


Um comentário:

Isadora P. disse...

Baby bat,

One of these mornin's, you're gonna rise up singin'
you're gonna spread your wings and you'll take to the sky

'cause it's summertiiiiiime, and the living is easy.