16.2.15

"não é revólver"


quero o amor como um revolver de beijos,
te escrever todos os dias um poema cheiroso
ou mesmo com cheiro de fronha precisada,
é o único assassinato que podemos cometer:
amar o desconhecido ao lado de um outro
que nos acompanha enquanto preparamos
uma oportunidade para que nossa invenção
sobreviva no ar das pessoas por um tempo
para depois mudar-se em outra imprecisão
a que chamamos curso dos dias suspensos,
revolver engatilhado na ponta das ideias,
nostalgia da velha procissão dos esgotos,
rusgas como troféus de nossa força pálida,
ainda assim mãos que se unem no inferno,
ainda assim um amor maior que os tempos,
mínimo de não ser parte dos bons conformes,
cadavérico às vezes em flores de cheiro doce,
salvo por pedágios de partículas planetárias,
lustrado pela morte comum trazida no bolso,
bala que revolve a carne de um grito ousado
porque nossa chance é a partir dessa morte.
é preciso a cada dia preparar uma invenção,
palavras não são muito, perto do que resta
para as armas únicas capazes de tirar e dar.

Um comentário:

Isadora P. disse...

Confesso que adorei esse... ;)