sou o músico que não conhece o seu instrumento,
mas ama-o, e quanto mais o ama, menos o
conhece,
e só daí tira força para aumentar ainda
mais
esse desconhecimento vital, que também
se chama morte,
quando o silêncio se alimenta de
rachaduras
e tu que és o músico te sentas mais uma
vez
diante de teu instrumento, com as mãos
trêmulas
e nenhum domínio de tua língua, nada que
possa encobrir
o catálogo de teus erros, a gota da tua
seiva
secou no amparo da tua sorte, tudo se
afasta agora
e reconheces o milagre, o duro milagre
da falta
que te move para dentro, quando te
assustas
e queres então sair e não há para onde
sair
já que nunca entrastes, sempre
observando à distância
o que te cobra o cerne, tão lindo quanto
mais distante,
tão puro quanto mais profundo é teu
desamparo,
mas de qualquer outra forma não seria
amor.
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