15.9.13

“de qualquer outra forma não seria”


sou o músico que não conhece o seu instrumento,
mas ama-o, e quanto mais o ama, menos o conhece,
e só daí tira força para aumentar ainda mais
esse desconhecimento vital, que também se chama morte,
quando o silêncio se alimenta de rachaduras
e tu que és o músico te sentas mais uma vez
diante de teu instrumento, com as mãos trêmulas
e nenhum domínio de tua língua, nada que possa encobrir
o catálogo de teus erros, a gota da tua seiva
secou no amparo da tua sorte, tudo se afasta agora
e reconheces o milagre, o duro milagre da falta
que te move para dentro, quando te assustas
e queres então sair e não há para onde sair
já que nunca entrastes, sempre observando à distância
o que te cobra o cerne, tão lindo quanto mais distante,
tão puro quanto mais profundo é teu desamparo,
mas de qualquer outra forma não seria amor.

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