Escrever
história significa
dar
fisionomia às datas
(Walter
Benjamin)
é
preciso no entanto dar nome às datas
essas
feras esquecidas que só nos visitam aos pedaços
o
amor pelas datas e a vontade imensa de lembrá-las
nada
são as datas são futuros provisórios
que
se alteram conforme precisamos delas
onde
do outro lado está uma invenção
porque
é simplesmente impossível agora lembrar
e
no entanto é preciso dar nome às datas
o
dia em que perdi a libido a noite em que me suicidei
o
capacete alemão reluzindo à entrada do esconderijo
as
marcas essas nunca perderá tempo olhando para elas
e
nem mesmo os anjos as encontrarão no teu corpo
e
só poder falar da rosa e nunca ter visto a rosa
e
comer a rosa e esfregá-la embaixo dos braços
talvez
até despetalar a rosa ou usá-la como pedra
por
afinidade de parentesco endoidecê-la para enfim
te
deixares consumir pelo que fora do drama não é rosa
e
é tudo que é só teu e de mais ninguém e nunca vês
porque
procuras a rosa com que criarás teu final instável
e
aparentemente seguro porque criando a rosa sorris
mas
sabes todos sabemos quanto há fora da rosa
que
nunca poderás tocar e jamais deixarás de pensar nisso
ainda
que com tua rosa inventada na mão corroída
e
a chuva cairá sobre ti um dia uma chuva fortíssima
e
tu dirás a ti mesmo outra vez uma outra data
como
o dia em que a chuva pobre essência incompreensível
que
apesar de solícita é inepta e por todos os lados ouves
abstêmio
confuso magro com o queixo tremendo impossível
limpando-se
de si mesmo escorrendo devagar
o
que não sabe se é algo ou tudo o que nunca soube ou teve
e
se for tudo haverá de ser ao menos enlouquecido
porque
dessa forma já não dura muito a rosa criada
não
é preciso mais um holocausto para definir a espécie
que
venham as datas e debaixo das datas a rosa
e
dentro da rosa o não dito em seu corpo imperturbável
não
tens agora inteligência para o verbo concluso
e
a poesia gosta de coisas caras como as datas
que
marcadas definem a fisionomia da morte.
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