meu caro Carlos Drummond,
de que adianta, aqui, pronunciar teu nome?
estás vivo nas bocas dos equivocados.
andam comendo largas lagostas no teu poema.
o
pentágono, não sei se viste, foi invadido por um avião.
e
tua elegia transformada em mórbida profecia.
meu
caro Carlos Drummond,
ainda
assim, depois de todo esse cansaço novo,
ainda
que, feito mais um tolo que não pode
se
livrar da linha reta que perfura os nossos balões,
eu
tenha seguido pelas ruas a esperar a dinamite,
mesmo
assim, meu caro, ainda pronuncio teu nome,
meu
caro Carlos Drummond,
porque
vejo que produziste tamanhas verdades límpidas,
que
os fortes e vis e orgulhosos serviram-se delas como trunfo
e
assim dominam com ainda mais força e vileza e orgulho
o
que é frágil e, disseste, rolam rios difíceis até o desprezo,
para
depois, e só assim, retornar ao estado de enigma.
meu
caro Carlos Drummond,
diante
de tudo isso, poeta pequeno, tendo queimado a largada,
digo
teu nome para nada além de tirar teu nome
da
boca dos equivocados e brilhantes senhores da cultura.
teu
nome remete a um menino franzino, sedento, inerte,
e
não à faceirice dos que, dia-a-dia, acumulam mortes.
meu
caro Carlos Drummond,
veja
bem, os bancos, as instituições financeiras
encheram-se
de versos, e muitos dos teus.
você
está morto agora, mas é como se morto
tivesse
vivido tal que, agora, todos recitem
a
vida enigmática que você não compreendeu.
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