5.6.13

“o desmanche da livraria”







eles estão firmes e dão medo
quando, estendidos em fileiras,
nos olham como se acusassem
nossa falta de conhecimento.

nós viemos para derrubá-los,
parecemos dizer sem firmeza,
e quando tratamos de fazê-lo,
sentimos o peso dos seus dias.

se eles eram mil, um milhão,
seu peso infinito nos ombros
permite perder a conta, pesar
apenas um algo além da conta.

mas agora acabou o trabalho,
nos lavamos, e somos muito
pouco diante da surpreendente
cena, fruto do trabalho feito.

ali os que antes davam medo,
soldados rasos na testa do tempo,
e que pesaram muito ao desabar,
agora flutuam num holocausto

híbrido porque, mudados, ainda
sustentam a vergonha dos que,
com medo, os levaram ao chão,
jogados em letras de esqueleto.

não há perdão para tal mudança,
parecemos dizer a nós mesmos,
enquanto saímos para o mundo,
que, reparamos, não é o mesmo.

fingimos não reparar no gemido
mesopotâmico que sopra o estreito
corredor apinhado de seis mil anos
de bravos homens, uns nem tanto,

de barbas longas, largas costeletas
e todo o conhecimento do mundo,
transformados em massa de poeira,
enquanto dormes um sono limpo.

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