8.5.13

"ela chora"


tenho sido pessimista, enquanto, ao meu lado
alguém se veste sem pressa e chora pesado.
e penso que alguém que chora é bom partido
para quem é impossível encontrar um caminho.

ao meu lado alguém chora sem pressa, durmo,
já não tenho lágrimas para entender o absurdo
de quem chora por coisas em que falta o verbo.
afasto, calo, fujo, grito, inauguro-me de inverno,

com verbo demais me descontento, daí declino,
e como é linda, no fundo, essa raiva de menino
que acolhe com olhos inchados o que assusta,

porque chora do que não sabe dizer, e a busca
por achar vida no sem verbo e no verbo demais
é a manta sobre o inverno, dos trapos da paz.

2 comentários:

Antônio LaCarne disse...

encantado e altamente viciado nos teus poemas e em tudo o que você escreve.
essa leitura tornou meu domingo menos decepção de desocupado.

Anônimo disse...

também choro, as vezes, quando te leio. Mary