o
amor fugiu, a estrada por onde foi
leva
para muito longe.
e,
agora que ele se foi,
não
sei mais o que dizer sobre ele,
não
posso com emoção discerni-lo,
pois
a fuga do amor nos deixa mais práticos,
e
para discernir é preciso todo erro do coração.
ele
se foi, mas não se dá por desaparecido totalmente.
escorregou
por uma fresta onde corre água limpa,
caiu
no chão e sangue lhe escorreu pela boca.
talvez
assustado ele tenha partido,
mais
perdido do que eu, despejado noutro canto,
onde
a estrada se perde e imagina-se
ingenuamente
que ali há vida,
mas
pobre amor ingênuo e sem forças
para
mesmo aguentar as palpitações...
você
foi correndo e se mandou,
talvez
dentro de alguma mochila juvenil,
rumo
a fronteiras bem mais perigosas,
logo
você, que chegou aqui tão magro
e
eu te dei o que nem tinha para comer,
sorri
emprestado de mim mesmo morto,
o
morto que ainda era vivo e sabia
emprestar
o que não se pode repor.
“emprestar
para sempre”, você me disse e se foi,
no
deformar de uma sobrancelha em susto,
você
se foi porque seu estado é estar sempre
a
poucos metros de distância e toda uma vida.
na
partida não me explicou “veja bem, será difícil,
é
bom estar bem preparado”, nada disso.
portanto
agora, sem ter por que errar,
vai
ser mais duro aparecer em público,
voltarei
a comer os dedos com fúria, é tempo
de
espanar as aventuras que moveram
nossa
relação silenciosa, nem por isso menos frágil.
permita-me
em fuga que, com delicadeza,
eu
possa tratar de mais este misterioso assunto.
o
amor fugiu, até aí ninguém duvida.
ando
as ruas e vejo, em mãos dadas por um triz,
que
ele já não se encontra mais disponível
a
ferir com vida nossos parcos sentimentos.
sumiu,
evaporou no álcool barato, em tremedeiras,
desapareceu
com um beijo lançado para cima,
na
poeira que faz a cena durar um milhão de anos.
não
estou, acho que ninguém está preparado
para
fuga tão abrupta do que, perfeito, escorrega
para
além do ódio disfarçado, além do brilho,
escorrega
arrastando milênios e fundando eras,
ansiosamente,
como um sonho sem recordo
ele
veio, fugiu, não ensinou nada, mas mostra
como
andar sobre o patíbulo em chamas,
desempenhar
o incrível sapateado de fogo –
eterna
fuga que é a graxa entre a vida e a morte.
Um comentário:
tudo muito bom. bjs.
MM
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