7.1.11

"paul valery"

ó eu me desmembrarei em partes,
particulas minúsculas de lavagem
nas calçadas do coração da carne
que fica mais acima, em contato
direto e fixo com o que se perde
de vista ao se olhar, mais abaixo
as partes escolhem proponentes
no fio de um poste, no olho puro
do sujeito deformado pela tarde,
e serão muitas partes, uma tarde,
o medo de escrever o fragmento
perdido na concepção dos outros
fragmentos vitoriosos na fria luta
fragmental da existência incerta,
mas seremos o todo em seu lugar
sem rosto, despedaçados iremos,
não mais pela mentira da fraqueza
escamoteada na busca metafísica,
só em pedaços, e na superfície lisa,
deslizaremos sobre a pele fictícia,
decairemos sobre eras esquecidas,
e não haverá mais mãos ou tiro forte
para nos tirar desse deslize, faremos
o recuo interior, a manobra magma
nas asas do grave pássaro mecânico,
desbotaremos em milhares de cores
pálidas que ficarão na pele calçada
pelas botas do tempo, destruiremos
com nossa força débil, esmaecidos
diante do milagre, a mentira do que
unificado racha - pobres de vocês,
atarracados em bigodes prussianos,
pobres ministérios dos infanticídios,
porque não reconhecem a lisonja
de estar na superfície das coisas,
as mesmas às quais só podemos
dar nomes provisórios, e sabemos:
não somos poetas, mas fazemos.

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