não sei se é o vento fresco do início do inverno,
misturado ao calor aconchegante de um domingo
pela manhã, sem ressaca alguma, a não ser aquele
contumaz estremecimento estranho por todo o corpo,
que às vezes me leva a falar sozinho noutra língua
e além de tudo, é claro, muita saudade mas não
exatamente de alguém, saudade de uma sensação,
como se eu fosse um homem das cavernas e sentisse
como um homem das cavernas, a ponto de bater
a cabeça nas rochas, mas agora, talvez, por causa
de um monte de coisas juntas ou talvez apenas seja
porque no rádio, sempre nas manhãs de domingo,
existe um programa com as músicas que lembram
nossos pais e avós e todas as namoradas do mundo
e as coisas incontidas do coração, mas agora não há
estrada imediata, há apenas uma longa curva, mas
pelo menos as crianças gostam de mim e sorriem
com minha bela cara de idiota assustado, menos, é claro,
o filho do vizinho e isso eu nunca entenderei por quê,
mas acho que talvez seja porque ele será muito rico
e já me olha com desconfiança, como quem poderá
um dia roubá-lo e é bom mesmo ele ficar de olho aberto
desde agora, mas a mim me importa apenas acordar
nesse domingo de vento veloz e fresco e com muito sol,
e eu acordo e engulo um cigarro no outro e me dói
a garganta e sei que perderei minha voz assim e gosto
do perigo e fico com medo de perder a voz e apago
o cigarro no meio porque preciso da voz para quando
estiver feliz poder cantar no banho e ter coisas bonitas
e feias para dizer a pessoas conhecidas ou estranhas,
e penso que terei em breve uma irmã que se chamará
Marina e Marina Marona será o nome de uma nova
Anita Garibaldi e eu acho que Dorival Caymmi
ficaria feliz com esse nome e faria uma bela canção
cheia de trocadilhos para ela, mas ali está meu pai
porque o rádio toca a “Primeira canção da estrada”
do Zé Rodrix e eu sei, pai, que você tinha apenas 17 anos
e agora temos talvez menos anos ainda porque a vida
explode por dentro e por fora e já não temos todo
esse controle pretensamente humano e, de fato, nunca
amei a ponto de fumar um maço de cigarros apenas
ouvindo música e lendo e além do mais acho que deve
haver mesmo alguma coisa muito errada comigo
para eu ter virado assim um sujeito que escuta
Peninha e Erasmo Carlos e se emociona muito,
com os pêlos do corpo eriçados e se mantém assim,
dançando sozinho no meio da sala de um teatro
sem espectador e é claro que me sentir assim é algo
inevitável quando decidi ao acordar que se deve
apesar de tudo continuar a viver, mas tudo no fundo
se resume à vontade ancestral de te foder outra vez.
30.5.10
25.5.10
"a barca de niterói"
gosto do teu hálito de sono, do cheiro
inconstante de esperma e travesseiro –
me sinto muito bem na barca de Niterói.
enquanto todos correm para seus lugares,
lambo meus beiços e cheiro meu bigode,
feliz por um momento apesar das botas
dos mortos que bóiam na baía semi-extinta.
são mortos que nunca sentiram teu cheiro,
o cheiro de dentro de ti nos bigodes, pobres,
se afogaram porque sempre falta alguma coisa
a um homem quando ele decide deixar as botas
em pleno mar, mas na verdade, não importam
as botas flutuantes – estou feliz porque você
não me dá pressa quando tudo grita “pressa!”.
então me recordo de quando eu acordava
e ia à janela enorme, e a rua já tão cedo
tão cheia de pressa, e eu agora sem nenhuma.
ver você era a voz que diz “não tenha pressa,
olhe mais para ela, como dorme sem culpa”,
e eu, como bom católico, pecava sem culpa
por te olhar, tua pele oleosa, teu quase-ronco,
tua forma espatifada de ser simplesmente tudo,
e tudo me fazia esquecer janela, pressa, carros,
e pensar apenas num nome para um filho, assim,
despreocupadamente, como quem diz eu te amo.
inconstante de esperma e travesseiro –
me sinto muito bem na barca de Niterói.
enquanto todos correm para seus lugares,
lambo meus beiços e cheiro meu bigode,
feliz por um momento apesar das botas
dos mortos que bóiam na baía semi-extinta.
são mortos que nunca sentiram teu cheiro,
o cheiro de dentro de ti nos bigodes, pobres,
se afogaram porque sempre falta alguma coisa
a um homem quando ele decide deixar as botas
em pleno mar, mas na verdade, não importam
as botas flutuantes – estou feliz porque você
não me dá pressa quando tudo grita “pressa!”.
então me recordo de quando eu acordava
e ia à janela enorme, e a rua já tão cedo
tão cheia de pressa, e eu agora sem nenhuma.
ver você era a voz que diz “não tenha pressa,
olhe mais para ela, como dorme sem culpa”,
e eu, como bom católico, pecava sem culpa
por te olhar, tua pele oleosa, teu quase-ronco,
tua forma espatifada de ser simplesmente tudo,
e tudo me fazia esquecer janela, pressa, carros,
e pensar apenas num nome para um filho, assim,
despreocupadamente, como quem diz eu te amo.
24.5.10
"coral"
na natureza
as cores mais fortes,
resplandecentes,
indicam os venenos
mais poderosos.
queremos afinal
a beleza do veneno,
ou melhor seria
morrermos nus
na feiúra?
as cores mais fortes,
resplandecentes,
indicam os venenos
mais poderosos.
queremos afinal
a beleza do veneno,
ou melhor seria
morrermos nus
na feiúra?
23.5.10
"domingo na tijuca"
arregacei a marcha fúnebre
que toca os corações frágeis
e os levam, com olhos tristes,
aos confins da conseqüência.
e por isso preciso recuperar
o rolar cadenciado do pistão
calmo e firme, e ligar o rádio.
no rádio, a cachaça mecânica,
de Erasmo e Roberto Carlos,
feita tal fosse Chico Buarque,
me faz pensar “que bom frear,
poder ser um pouco tijucano”.
que toca os corações frágeis
e os levam, com olhos tristes,
aos confins da conseqüência.
e por isso preciso recuperar
o rolar cadenciado do pistão
calmo e firme, e ligar o rádio.
no rádio, a cachaça mecânica,
de Erasmo e Roberto Carlos,
feita tal fosse Chico Buarque,
me faz pensar “que bom frear,
poder ser um pouco tijucano”.
19.5.10
"pseudo-subterrâneo"
Acredito que na raiva somos honestos, e apenas. Acontece que, quando somos honestos – vejam que contraditório – somos em demasia. É o que nos dizem com os olhos: “São em demasia”. Ser em demasia é uma depravação, quase uma apropriação indevida, um luxo adquirido por um assassinato a facadas. Entende-se, portanto, que ser honesto é uma depravação.
Andamos nas ruas à procura de um tombo que nos faça apaixonar por algo: já não cremos na dureza da evolução vertical. Mas no fundo sabemos: os espaços estão acabando, estamos sendo espremidos nos cantos das mesas, e precisamos tomar nossas cervejas escondidos atrás de gigantescos chapéus retóricos. Esse romantismo fora de moda, essa inclinação vexaminosa ao perigo da ternura gratuita, os choros enquanto assobiamos antigas canções que não nos lembram nada, não importa muito de onde trouxemos tal bagagem: estamos cegos e seguimos em direção ao sol amargo da desconfiança.
Um homem deve-se perguntar: o autoconhecimento deve necessariamente representar a morte do amor? Conhecer mata, seguimos suscetíveis aos mais variados melodramas. Estamos vivos, portanto, mas não pertencemos, não fazemos os outros dizerem: “De fato, progridem”, nem sabemos responder às mais simples questões. Ao contrário, sangramos sorrisos e torcemos ainda pelo desregramento de todos os sentidos.
Por que não vieram de uma vez nos alimentar com roupas exageradas e loucos cachecóis? Nos jogaríamos facilmente na degeneração da verdade, através da fantasia, apenas para poder dizer: “É mentira, então posso fazê-lo”. Nosso paradoxo mais emocionante: a depravação nos isola como párias, mas pelo menos promete um pouco de verdade. Nossa única maneira de sentir, o beliscão na pele que machuca e elucida, é sermos contra a verdade. Na negação de tudo, podemos aceitar. A nós – antiga doença – parece fundamentalmente sem sentido afirmar coisas como “agora sim, vejo que tenho”, ou “não é bem isso, mas farei com que seja”, ou ainda “preciso esquecer isso, então pensarei naquilo”. Não temos compartimentos, as guerras internas nos conduzem a um inebriante e mentiroso estado de charme. “Nada me importa”, dizemos sem dificuldade, com a boca trêmula, esperando que algo aconteça, o plágio definitivo que nos permitirá dormir outra vez. Nada acontece, então acendemos um cigarro, e pensamos: “É incrível o domínio que se tem sobre a própria vida”. No fundo, nossa grande aspiração é a de sermos arrebatados por um soco firme nas idéias, o que nos faz beber descontroladamente de uma delicadeza selvagem, felina, como o gato acuado por uma chuva de prata: atávico e bonito crime da vida.
É preciso ser herói ou chafurdar na lama. Queremos os olhos quentes e as nucas expostas em desejos musicais. Não nos obriguem a explicar essa beleza assustada que tende a deixar o corpo nu diante de cruéis expectativas. Criar uma nova espécie antiga é nossa única forma de permanecer. Não viemos apontar os atalhos, estamos vendados com a purpurina barata da lucidez indiferente, vejam com atenção nossos esperançosos caminhantes, como eles pedem, como dão o que nem tem, estão com o peito rasgado, a boca seca, os passos frenéticos de pernas curtas demais, e ali está algo que suplica por provações que justifiquem a nossa tristeza, que não podemos afirmar a não ser com pequenas gracinhas sem pretensão. E, além de tudo, pensem o que quiserem, mas quando agredimos e cuspimos estamos entregando nosso mais precioso bem. O resto é mentira, serve apenas para viver.
Andamos nas ruas à procura de um tombo que nos faça apaixonar por algo: já não cremos na dureza da evolução vertical. Mas no fundo sabemos: os espaços estão acabando, estamos sendo espremidos nos cantos das mesas, e precisamos tomar nossas cervejas escondidos atrás de gigantescos chapéus retóricos. Esse romantismo fora de moda, essa inclinação vexaminosa ao perigo da ternura gratuita, os choros enquanto assobiamos antigas canções que não nos lembram nada, não importa muito de onde trouxemos tal bagagem: estamos cegos e seguimos em direção ao sol amargo da desconfiança.
Um homem deve-se perguntar: o autoconhecimento deve necessariamente representar a morte do amor? Conhecer mata, seguimos suscetíveis aos mais variados melodramas. Estamos vivos, portanto, mas não pertencemos, não fazemos os outros dizerem: “De fato, progridem”, nem sabemos responder às mais simples questões. Ao contrário, sangramos sorrisos e torcemos ainda pelo desregramento de todos os sentidos.
Por que não vieram de uma vez nos alimentar com roupas exageradas e loucos cachecóis? Nos jogaríamos facilmente na degeneração da verdade, através da fantasia, apenas para poder dizer: “É mentira, então posso fazê-lo”. Nosso paradoxo mais emocionante: a depravação nos isola como párias, mas pelo menos promete um pouco de verdade. Nossa única maneira de sentir, o beliscão na pele que machuca e elucida, é sermos contra a verdade. Na negação de tudo, podemos aceitar. A nós – antiga doença – parece fundamentalmente sem sentido afirmar coisas como “agora sim, vejo que tenho”, ou “não é bem isso, mas farei com que seja”, ou ainda “preciso esquecer isso, então pensarei naquilo”. Não temos compartimentos, as guerras internas nos conduzem a um inebriante e mentiroso estado de charme. “Nada me importa”, dizemos sem dificuldade, com a boca trêmula, esperando que algo aconteça, o plágio definitivo que nos permitirá dormir outra vez. Nada acontece, então acendemos um cigarro, e pensamos: “É incrível o domínio que se tem sobre a própria vida”. No fundo, nossa grande aspiração é a de sermos arrebatados por um soco firme nas idéias, o que nos faz beber descontroladamente de uma delicadeza selvagem, felina, como o gato acuado por uma chuva de prata: atávico e bonito crime da vida.
É preciso ser herói ou chafurdar na lama. Queremos os olhos quentes e as nucas expostas em desejos musicais. Não nos obriguem a explicar essa beleza assustada que tende a deixar o corpo nu diante de cruéis expectativas. Criar uma nova espécie antiga é nossa única forma de permanecer. Não viemos apontar os atalhos, estamos vendados com a purpurina barata da lucidez indiferente, vejam com atenção nossos esperançosos caminhantes, como eles pedem, como dão o que nem tem, estão com o peito rasgado, a boca seca, os passos frenéticos de pernas curtas demais, e ali está algo que suplica por provações que justifiquem a nossa tristeza, que não podemos afirmar a não ser com pequenas gracinhas sem pretensão. E, além de tudo, pensem o que quiserem, mas quando agredimos e cuspimos estamos entregando nosso mais precioso bem. O resto é mentira, serve apenas para viver.
6.5.10
“à esposa abissínia de rimbaud”
a retomada da primeira masculinidade,
quando os versos eram sobre os campos
e as mulheres germinavam nos vestidos
a maravilha agressiva do primeiro sexo.
a retomada foi uma pele curtida e crua,
modos europeus, cigarro sempre no bico:
o milagre vinha da tribo islâmica argoba,
e eles andavam, as mãos dadas, o corpo.
a retomada da primeira masculinidade
ainda doída, com os dentes quebrados,
mãos descascadas, vermelhas, enormes,
inflamação nas juntas latentes do amor.
vocês se amavam em silêncio utópico
enquanto hienas rodeavam os corpos
dos inválidos nos esgotos inexistentes.
o calor desértico te fez inchar as juntas,
ademais essas andanças de malabarista
que te levaram enfim: agora és homem.
e como homem deves viajar para longe,
acumular riquezas, reclamar em cartas
para a mãe avarenta, sobre tal doença,
que é doença da distância, o carcinoma
que vai comer o ex-menino pelo joelho.
e ela estará, Zelda Fitzgerald africana,
e compreenderá pouco, e dará muito,
como as reles mulheres das tavernas,
que davam o decote ao servir o chope.
e mesmo podre, enrolado na ambição
mundana, tu exalas ainda a pestilência
tenebrosa dos que recebem, e se vão.
quando os versos eram sobre os campos
e as mulheres germinavam nos vestidos
a maravilha agressiva do primeiro sexo.
a retomada foi uma pele curtida e crua,
modos europeus, cigarro sempre no bico:
o milagre vinha da tribo islâmica argoba,
e eles andavam, as mãos dadas, o corpo.
a retomada da primeira masculinidade
ainda doída, com os dentes quebrados,
mãos descascadas, vermelhas, enormes,
inflamação nas juntas latentes do amor.
vocês se amavam em silêncio utópico
enquanto hienas rodeavam os corpos
dos inválidos nos esgotos inexistentes.
o calor desértico te fez inchar as juntas,
ademais essas andanças de malabarista
que te levaram enfim: agora és homem.
e como homem deves viajar para longe,
acumular riquezas, reclamar em cartas
para a mãe avarenta, sobre tal doença,
que é doença da distância, o carcinoma
que vai comer o ex-menino pelo joelho.
e ela estará, Zelda Fitzgerald africana,
e compreenderá pouco, e dará muito,
como as reles mulheres das tavernas,
que davam o decote ao servir o chope.
e mesmo podre, enrolado na ambição
mundana, tu exalas ainda a pestilência
tenebrosa dos que recebem, e se vão.
2.5.10
“resposta insuficiente para rimbaud”
porque já não tenho mais como abandonar
o que você sempre desprezou em cifras,
porque não tenho Zanzibar, nem ao menos
uma mísera Pasárgada reconhecível,
mas, principalmente, porque sou fraco,
e acho beleza nessa antiguidade suplicante,
e porque já pesam sobre mim o bastante
meus 28 anos, minhas poucas viagens,
e porque as ondas, banhadas em ácido,
nunca interferiram na delicadeza frustrada,
e os sinos de nenhuma St. Paul’s geométrica
badalaram sobre mim industrialmente.
sinto febre de música, e de movimento,
talvez ainda errarei bastante, assim espero.
não chegarei, obviamente, a ser sábio,
mas algo faz eu me afastar dessas arestas,
algo que vem de longe, talvez da época
em que os coelhos eram humanos bons,
e não se absorviam tantos fluidos cerebrais.
talvez um pouquinho de ti, mas não a fuga,
muito mais o pavor de ser-te em pretexto:
raspar os cabelos, banir o piolho poético,
chantagear, quem sabe, o amigo sodomita,
mas talvez falte ter querido ir mais adiante,
balão às pressas de estourar por culpa física.
mas a ti digo não, porque não é a palavra
de quem ama, de quem publica nossos livros,
de quem não dá adeus, mas sofre por dentro
das margens instransponíveis da linguagem,
seja para lamber, ou para xingar, ou ao léu,
e, afinal de contas, futuristicamente falando,
o que faria eu, agora, com um arranha-céu?
muito bem, meu irmão de mãos vermelhas,
eu direi não a ti, como a falha premonitória,
direi não às místicas caminhadas de roer
costelas até chegar ao estômago estragado.
direi não aos professores fúnebres, veados
sem sucesso e por isso mais bem sucedidos.
direi não até, quem sabe, eu amadureça,
para ser jovem como a estrada perigosa
exige, e que se apresenta nas curvas,
não nas retas que nos levam à Rússia,
parando em Viena, e que nos retornam
de volta à mãe, a única fiel, com falhas
ao coração parnasiano, para que no fim
a senhora – e não direi senhora – venha
velar meu corpo, gangrenado, translúcido.
o que você sempre desprezou em cifras,
porque não tenho Zanzibar, nem ao menos
uma mísera Pasárgada reconhecível,
mas, principalmente, porque sou fraco,
e acho beleza nessa antiguidade suplicante,
e porque já pesam sobre mim o bastante
meus 28 anos, minhas poucas viagens,
e porque as ondas, banhadas em ácido,
nunca interferiram na delicadeza frustrada,
e os sinos de nenhuma St. Paul’s geométrica
badalaram sobre mim industrialmente.
sinto febre de música, e de movimento,
talvez ainda errarei bastante, assim espero.
não chegarei, obviamente, a ser sábio,
mas algo faz eu me afastar dessas arestas,
algo que vem de longe, talvez da época
em que os coelhos eram humanos bons,
e não se absorviam tantos fluidos cerebrais.
talvez um pouquinho de ti, mas não a fuga,
muito mais o pavor de ser-te em pretexto:
raspar os cabelos, banir o piolho poético,
chantagear, quem sabe, o amigo sodomita,
mas talvez falte ter querido ir mais adiante,
balão às pressas de estourar por culpa física.
mas a ti digo não, porque não é a palavra
de quem ama, de quem publica nossos livros,
de quem não dá adeus, mas sofre por dentro
das margens instransponíveis da linguagem,
seja para lamber, ou para xingar, ou ao léu,
e, afinal de contas, futuristicamente falando,
o que faria eu, agora, com um arranha-céu?
muito bem, meu irmão de mãos vermelhas,
eu direi não a ti, como a falha premonitória,
direi não às místicas caminhadas de roer
costelas até chegar ao estômago estragado.
direi não aos professores fúnebres, veados
sem sucesso e por isso mais bem sucedidos.
direi não até, quem sabe, eu amadureça,
para ser jovem como a estrada perigosa
exige, e que se apresenta nas curvas,
não nas retas que nos levam à Rússia,
parando em Viena, e que nos retornam
de volta à mãe, a única fiel, com falhas
ao coração parnasiano, para que no fim
a senhora – e não direi senhora – venha
velar meu corpo, gangrenado, translúcido.
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