gosto do teu hálito de sono, do cheiro
inconstante de esperma e travesseiro –
me sinto muito bem na barca de Niterói.
enquanto todos correm para seus lugares,
lambo meus beiços e cheiro meu bigode,
feliz por um momento apesar das botas
dos mortos que bóiam na baía semi-extinta.
são mortos que nunca sentiram teu cheiro,
o cheiro de dentro de ti nos bigodes, pobres,
se afogaram porque sempre falta alguma coisa
a um homem quando ele decide deixar as botas
em pleno mar, mas na verdade, não importam
as botas flutuantes – estou feliz porque você
não me dá pressa quando tudo grita “pressa!”.
então me recordo de quando eu acordava
e ia à janela enorme, e a rua já tão cedo
tão cheia de pressa, e eu agora sem nenhuma.
ver você era a voz que diz “não tenha pressa,
olhe mais para ela, como dorme sem culpa”,
e eu, como bom católico, pecava sem culpa
por te olhar, tua pele oleosa, teu quase-ronco,
tua forma espatifada de ser simplesmente tudo,
e tudo me fazia esquecer janela, pressa, carros,
e pensar apenas num nome para um filho, assim,
despreocupadamente, como quem diz eu te amo.
25.5.10
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