2.5.10

“resposta insuficiente para rimbaud”

porque já não tenho mais como abandonar
o que você sempre desprezou em cifras,
porque não tenho Zanzibar, nem ao menos
uma mísera Pasárgada reconhecível,
mas, principalmente, porque sou fraco,
e acho beleza nessa antiguidade suplicante,
e porque já pesam sobre mim o bastante
meus 28 anos, minhas poucas viagens,
e porque as ondas, banhadas em ácido,
nunca interferiram na delicadeza frustrada,
e os sinos de nenhuma St. Paul’s geométrica
badalaram sobre mim industrialmente.

sinto febre de música, e de movimento,
talvez ainda errarei bastante, assim espero.
não chegarei, obviamente, a ser sábio,
mas algo faz eu me afastar dessas arestas,
algo que vem de longe, talvez da época
em que os coelhos eram humanos bons,
e não se absorviam tantos fluidos cerebrais.

talvez um pouquinho de ti, mas não a fuga,
muito mais o pavor de ser-te em pretexto:
raspar os cabelos, banir o piolho poético,
chantagear, quem sabe, o amigo sodomita,
mas talvez falte ter querido ir mais adiante,
balão às pressas de estourar por culpa física.

mas a ti digo não, porque não é a palavra
de quem ama, de quem publica nossos livros,
de quem não dá adeus, mas sofre por dentro
das margens instransponíveis da linguagem,
seja para lamber, ou para xingar, ou ao léu,
e, afinal de contas, futuristicamente falando,
o que faria eu, agora, com um arranha-céu?

muito bem, meu irmão de mãos vermelhas,
eu direi não a ti, como a falha premonitória,
direi não às místicas caminhadas de roer
costelas até chegar ao estômago estragado.
direi não aos professores fúnebres, veados
sem sucesso e por isso mais bem sucedidos.

direi não até, quem sabe, eu amadureça,
para ser jovem como a estrada perigosa
exige, e que se apresenta nas curvas,
não nas retas que nos levam à Rússia,
parando em Viena, e que nos retornam
de volta à mãe, a única fiel, com falhas
ao coração parnasiano, para que no fim
a senhora – e não direi senhora – venha
velar meu corpo, gangrenado, translúcido.

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