1.1.10

"o último dia do ano"

tenho que marcar você de alguma forma.
você começou feito um cometa e acabou
se espatifando em pleno vôo, casais brutais
se aglomeram na ânsia cruel por felicidade,
não sabem como falta pouco para que ela,
a felicidade, perca totalmente a importância.

na falta de esperança, resta o comércio:
ninguém mais pensa no menino deus morto,
enchemos as ruas como zumbis atrás de emprego,
as doenças novas chegam de muito longe, estão
maquiadas mas, apesar de tudo, cheiram bem.

dizem que ano que vem será mais quente,
vão triplicar os habitantes de classe média:
mais gente com poucas perguntas e nenhuma resposta.

hoje é o último dia do ano de 2009, quero marcar
isso de alguma forma que seja ao menos palatável,
mas não sou Andreiev, tampouco Nikolai Leskov.

hoje chove: ouço Django e vejo um Woody Allen,
e como eles penso que sinto morder essa doença viva,
tento rir um pouco disso tudo, mas no fundo sei
que amanhã será dia de ressaca, estarei de novo
abraçado à contagem, que no fundo não é dos anos,
na verdade contamos pele que decai, lágrimas secas,
e aquele sorriso ao menos infantil, que outros dizem
aéreo, egoísta, distante, mas que, mesmo enganado,
vale o erro de uma criança, e amanhã nós todos
outra vez nos trombaremos pelas ruas, trocaremos
olhares furtivos pelos bares, acharemos quem sabe
alguma beleza escondida em pequenos movimentos
desimportantes, posto que sem a tal forjada carga
com que damos sentido à vida – e a perdemos.

2 comentários:

Anônimo disse...

2010

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Moniquinha disse...

Minha ressaca começou hoje Leo.. ao me olhar no espelho não consegui sorrir pois o bafo de vodka vencida fedeu mais alto. Por enquanto vou me contentando com a esperança porque "Tristezas não pagam dívidas". Em Recife o Sol dói nos meus olhos. Vou agora tirar os óculos escuros e voltar ao espelho para tentar sorrir outra vez. Tenho cá comigo que vou descobrir meu sorriso de criança de novo. Pela segunda vez em 2010.. a primeira foi ao ler ""o último dia do ano". Parabéns Poeta!! Bj.