29.12.09

"com amor, para meu pai"

no fundo, meu pai, te espero

como o cometa sexagenário

que passa enquanto dormimos

e já nem temos mais os sonhos,

sobrou apenas o suor doente

porque no fundo todos nós

esperamos o cometa tardio,

enquanto, cá na terra, os olhos

se desencontram sob a moral

das opiniões sublimes, e o nó

já não pode mais ser desfeito,

teremos que, sem papel, virar

as páginas do nosso silêncio,

abandonar o resto da ternura,

que dava cor às fotos, água

à sede colorida, ao pensarmos

no quanto ainda nos faltava,

com ansiedade nos largávamos

por entre os becos da fome rara

e avançávamos restritos como

óvnis desalentados, sem rumo

entre extraterrestres perenes,

como nós dois, sem asas, e nem

a boca preciosa dos impropérios,

nem a língua que, com delicadeza,
remediava as feridas inevitáveis

que deveríamos ter com carinho,

mas que nos matam indiferentes.

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