no fundo, meu pai, te espero
como o cometa sexagenário
que passa enquanto dormimos
e já nem temos mais os sonhos,
sobrou apenas o suor doente
porque no fundo todos nós
esperamos o cometa tardio,
enquanto, cá na terra, os olhos
se desencontram sob a moral
das opiniões sublimes, e o nó
já não pode mais ser desfeito,
teremos que, sem papel, virar
as páginas do nosso silêncio,
abandonar o resto da ternura,
que dava cor às fotos, água
à sede colorida, ao pensarmos
no quanto ainda nos faltava,
com ansiedade nos largávamos
por entre os becos da fome rara
e avançávamos restritos como
óvnis desalentados, sem rumo
entre extraterrestres perenes,
como nós dois, sem asas, e nem
a boca preciosa dos impropérios,
nem a língua que, com delicadeza,
remediava as feridas inevitáveis
que deveríamos ter com carinho,
mas que nos matam indiferentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário