hoje não escreverei em nome de João Paulo Cuenca,
não pintarei com tédio as tardes, não tenho vontade
de dizer que desejo um filé com meu nome no Lamas,
não serei curador de exposições, jurado por afinidades
políticas transitórias, não darei mais aulas de literatura
para famigerados obesos, com barba meticulosamente
por fazer, hoje não sinto vontade nem mesmo de dizer:
“eu sou João Paulo Cuenca”, gostaria de estar vendado,
seqüestrado por amantes juvenis da literatura inflamada,
fechado no quarto, comendo pouco, como nos grandes
jantares da alta burguesia, obrigado a pelo menos ouvir
David Bowie a noite toda, mas hoje eu não me gabarei
dos pequenos atos, não recitarei no sarau das madames
gordas de gim na Casa do Saber, não terei privilégios
nas boates, hoje não darei falsas pistas, não abraçarei,
festivamente, os histriônicos escritores recomendados,
hoje farei ao contrário, serei somente Valerie Solanas
engatilhando a arma que quase matou Andy Warhol.
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