12.1.10

"como planta eu quero"

enfim pintaram meu retrato numa pose contemplativa

e as sereias da emoção subitamente se transformaram

no deserto do tártaro, e parece mesmo que as plantas

brotam do cérebro esvaziado com estranha harmonia.


eu cuido dessas plantas como cuido de meus amigos,

deixando-os sem minha água para vermos os olhos

suplicantes de quem precisa um do outro, do contrário

estaria por aí esquecendo-se do amor, mas eles não.


eu cuido sim, manejo com cicuta o som das folhagens.


as palavras, elas nunca deram conta de antecipar

o aviso – “o desperdício é a dádiva” – numa época

de profunda restrições, se debatendo por mudanças,

e elas, as palavras, são mais fiéis que cães, ribombam

como o ser patético na tentativa de reviver o natimorto.


mas quero deixar cair as folhas secas da imaginação.

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