enfim pintaram meu retrato numa pose contemplativa
e as sereias da emoção subitamente se transformaram
no deserto do tártaro, e parece mesmo que as plantas
brotam do cérebro esvaziado com estranha harmonia.
eu cuido dessas plantas como cuido de meus amigos,
deixando-os sem minha água para vermos os olhos
suplicantes de quem precisa um do outro, do contrário
estaria por aí esquecendo-se do amor, mas eles não.
eu cuido sim, manejo com cicuta o som das folhagens.
as palavras, elas nunca deram conta de antecipar
o aviso – “o desperdício é a dádiva” – numa época
de profunda restrições, se debatendo por mudanças,
e elas, as palavras, são mais fiéis que cães, ribombam
como o ser patético na tentativa de reviver o natimorto.
mas quero deixar cair as folhas secas da imaginação.
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