“I need you,
I don’t need you”
(Leonard Cohen)
Agora, com os olhos estalados de insônia, queria escrever algo que não me fosse infância, que não fosse o mesmo que dizem como limite do eu não posso sozinho e nego, algo que eu não possa entender porque estou embriagado de amor, sim, esse amor não falado, assim tão tingido, antigo e vago, e que ao mesmo tempo embalasse meu sono tardio, algo que não bolasse bocejos ou ruminasse golpes, que saísse para pegar o leite e criticar o vizinho, e me apanhasse no colo (ou no cio), e me largasse quando eu sentisse o fígado, mas sobretudo algo sonolento que vendasse os dias de clausura, sobretudo que não fosse poesia ou frase – o problema é que tudo que a gente faz de verdade não é falso nem verdadeiro, mas é poesia ou frase, boa ou ruim – mas mesmo assim queria algo que se diluísse com o barulho da ampulheta sem a minha atenção, e não tivesse a forma grandiosa de um gênio bêbado dizendo a um poeta promissor sobre versos orientais, e tivesse o som de um pêndulo que viesse e fosse e estivesse aqui como aquele sonho que só vem quando estou sozinho e ocupado, mas meus olhos estalados, tristes de insônia, a cama desfeita, teu buraco ainda nela, ou na minha cabeça, ando, ando, ando, sem solas, vírgulas, ou repetições para tantos passos – e afinal, andar para que se é de mim que escapo? – mas, nu e sozinho, quero escrever algo que não me cause nenhum arrepio, que saiba olhar nos olhos de quem ainda não se ama com delicadeza e susto ácido, nada além do ritmo interior do mundo, nem feio nem bonito, louco, aquilo que ninguém vê e nos embala cegos, quando então desaparece e a gente morre enfim pobre nona sinfonia, que só desmerece o poema que não fiz.
5 comentários:
acho que gosto muito de ler você
quando vc volta? vou a são paulo no fim de semana. vc vai estar em são paulo no fim de semana? fico de sabado até segunda. me avisa?
isso está muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito bonito.
dani, me dá teu telefone.
Mandei convite pra vc por e-mail. Linkei teu blog no meu, www.micropolis.blogspot.com
Um abraço,
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