agora, olha, vê minhas mãos.
as que te agora desabrocham,
estão desfolhadas minhas mãos.
acenaram às sombras de esquinas latentes,
para deuses irônicos, demônios inocentes,
pervertidos por nosso destempero de viver.
estas que tu um dia disseste “tão bonitas!”
bonitas (calmas?) como a história da vida.
sim, das mortes e das mãos que se deram.
sim, no centro destas mãos corre o ritmo
do descobrimento selvagem.
nas pontas, o ácido do tédio
que ou se liquefaz ou nos corrói
os ossos expostos e frágeis, duros.
mas sempre calmos... ah, sempre tão calmos!
as mãos regem a terra e colhem as lágrimas.
estão suadas, palpitantes e cheias de musgo.
elas que refletidas pareciam me dar coragem,
agora estão marcadas, o centro ainda úmido.
continuam suplicantes e calmas, acorrentadas,
continuam hesitantes, fora do tempo de deus,
ainda que sejam símbolo do tempo de deus.
acorrentadas antecipam os apitos dos trens
para longe, para muito longe – é longe?
as mãos carregam, as mãos não sabem...
o estandarte da morte é tudo que trazem
liquefeito em ódio no suor dos homens.
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