os intelectuais cansados
com suas pantufas acusam
a sociedade de passividade
diante dos fatos com que
a sociedade acusa o Estado
da indiferença que o Estado
empurra para os proletários
e plenários vazios às quartas-feiras
de cinzas que, sopradas pelos governos
(que não acusam ninguém) vão parar
sobre o nervo pálido da fragilidade
que cada um carrega para casa
torcendo para que a velha desculpa
de que “fizemos a nossa parte”
faça com que o menino desdentado
que chora por ter sido queimado
pelo padrasto alcoólatra não cresça
o tanto que precisa para se tornar besta
movido pela nossa culpa e dois braços
com força para matar.
ninguém fez ontem pelo que chora hoje,
mas, mão no peito, nós cantamos o hino.
nossa rotina de insônia, nosso contrato,
é destruir aquilo que não foi concluído,
e fazer o mito do que não foi realizado.
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