com que olhos agora me veste
o pálido coração amedrontado?
com que boca tu não me disseste:
o que nos leva à morte é o fardo
de manter na cama a discrepância,
cordas tensas na laringe tísica.
ecoe, portanto, no sino do câncer
a poesia eterna da poesia extinta.
na horda dos santos que apontam crucifixos,
por quantas portas você – eu mais velho –
não foi jogado na lama por olhos injetados
no desejo enclausurado das horas em pânico?
você de quem herdei no sangue
harmonia e maldição, luz e veias,
você que a noite clareou, alheia,
no estertor da vela embalsamada e
do coração necessitado coberto de
cinzas cristalinas, apaziguadas.
que morreu no dia de ter nascido poeta.
filho boêmio, pai esteta, avô indígena,
se me falta poesia é porque meus olhos
marearam agora que te vejo tão repleto,
tão cheio de deus, com gazes no nariz.
Um comentário:
Porra Marona!!!
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