27.12.06

"amarelo para van gogh"

(campo de trigo com corvos, 1890)

o que não se funde não fere
a massa de tinta nos sonhos,
a ponte levadiça dos prismas.

tua arte era teu pavor químico
de alcançar o ponto mais cego
no cerne da dor e da aceitação.

e como estas são duas padronizações
sem conexão a não ser contingente,
então a princípio a arte não existe.

demônios decalcados no grito da noite,
tua loucura foi por excesso de bondade.

o mundo teve medo da tua alma amarela,
dos comedores de batata na escuridão,
das lâminas e das lágrimas de absinto,
do teu amor derretido na pele da luz.

tua idéia de arte funciona apenas nos
cérebros ébrios, do contrário mortos.
quando um sóbrio fala em ti ele viola
a saliva sobre tuas telas engolidas.

a vida é apenas uma palheta de cores,
a justiça dos homens, pincel quebrado.
“a tristeza durará para sempre”,
disseste a Theo com corvos nos ossos.

demônios decalcados no grito de sangue,
teu corpo insepulto é a lira dos mortos.

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