De fato, sugiro que as mães mantenham suas filhas longe de mim; pois posso facilmente me apaixonar pela mãe. Tenho todas as péssimas qualidades de um romântico com crise de identidade. Tenho alguns péssimos hábitos, como andar olhando as árvores e torcer por um sorriso inesperado de alguém que passa na rua. Ou mesmo um certo talento nato para ser arrebatado pelo mais miserável dos acontecimentos súbitos. Tenho a terrível habilidade de ler com os olhos as intenções das pessoas, tendo me equivocado em todas as oportunidades que exigiam certo risco, porque pareciam valer a pena mesmo assim. Bom lembrar: sou um eterno adolescente em questões emotivas, mas um ancião em questões práticas e de apego irrevogável. Do tipo disposto a atrasos debaixo de chuva perpendicular e longas conversas mudas em óculos escuros com canudos sujos de batom. Sujeitinho que sou... muito suscetível às incertezas dos cílios e das bocas. Minha alma é um cipreste impressionista esmagado por uma panturrilha neoclássica. Dormindo me sinto melhor, pois é quando posso estar com tudo o que me estimula a viver ao mesmo tempo. À noite certas tendências me afastam de um bom partido para qualquer coração necessitado de compaixão. Algum comando diabólico me arquiteta com maquinações antecipadas de pensamentos, que forjam movimentos e soluçam sustos através de atitudes impensadas, bem próximas do animalesco, e isso me mantém congruente apenas com meus pensamentos, poucas vezes tendo sido resultado de conversas apreciativas ou arroubos passionais. No entanto, o outro lado dessa tese promove arrebates instantâneos de ternura e compleição, tiros de flores a quem quer que atravesse meu caminho. Já me chamaram de anjo, já desejaram a minha morte, já me fizeram chorar de alegria e de pavor, já fui Judas, Barrabás, Nero, já beijei dedo a dedo os pés do afeto, liquefeitos na fumaça de um incenso natural de corpos. Meu desejo é incontrolável e funciona como uma bexiga. Pulsa pavorosamente quando está em estado de combustão. Se enruga como uma bergamota chupada quando se extingue. Não posso controlá-lo ou agir como se pudesse, para agradar aparências espelhadas em arco-íris de contentamento e pseudo-evolução. Me deixo levar como as folhas, o que resulta num certo aperfeiçoamento em aquaplanagem e uma certa tendência a vento. Sigo mulheres que são passos, sempre que chego já se tornaram em areia outra vez. Deixo elas fazerem de mim o que bem quiserem que eu queira. Com detestável perplexidade enrustida, desfaleço-me, fingindo de morto, para me instalar nas pequenas dobraduras, onde não posso ser incomodado, e de onde observo melhor minhas próprias impossibilidades crônicas e meus planos de emergência mal-arquitetados: pára-quedas azuis emperrados na virilha do perfume feito do esfacelamento de pétalas inaptas.
16.8.06
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7 comentários:
... estava mesmo faltando a identificação (!)
Antes, todos os caminhos iam,
hoje, todos os caminhos vêm...
A casa é acolhedora, os livros poucos. E eu mesmo sirvo o chá para os fantasmas...
Eu contrato!
... mas antes preciso que me explique o como é uma bergamota chupada.
Naira.
Não somos o que devíamos ser,
Não somos o que desejamos ser,
Não somos o que iremos ser.
Mas, graças a Deus
Não somos o que éramos”
Quintana, seu velhaco! Que orgulho você por aqui!
Naira, sabendo teu nome te explico o que tu quiser. Mas era um texto realmente biográfico. Esqueci, incusive, (e que fique registrado) de mencionar L. Cohen, meu xará, que me inspira lindos parapeitos.
gostei muito desse texto, mas não tenho muito o que dizer. só sei que pulsa dentro. Saudades. espero ansiosamente o dia que a gente vai se rever.
que romântico e sincero o comentario!
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