14.5.06

“não me procurem mais”

à menina
Parece que fim. Não confundam, sim, não confundam, não, que fim, que eu... Mas é só o começo. Palavras que sempre derrubaram homens, massacraram tentativas de reparo, atropelaram sentimentos puros e vagos, fortes e hesitantes, sedentos por uma nova página, por uma nova vida... Pois vá, vida! Vá simples, evolutiva, para fora de mim, para fora desse espelho persecutório, vá e se aposse das sombras que cochicham derrotas por detrás do córtex apelativo dentro da fuga parada. Uma solução da mistura do que fazer com o que não pode ser desfeito anula boas intenções. Erros fazem o homem, muito mais que acertos. Pois errando ele se sente menos homem, quando de fato é, porque ser homem é ser menos, quando se alcança o ápice, quando se pode ver. Mas tudo é apenas palavra – não altera em nada – na necessidade de ter sido a hora certa fora do relógio derretido pregado à parede descascada do meu perdão. O tempo passou, seguro meus fios nas mãos roídas de dúvidas infantis, tão tarde e no princípio da dívida que não sei para onde rumar, não parece haver solidez em nenhum lugar, se sempre essa sombra, esse reflexo. E eu não quero a solidez – pois preciso escorregar frouxo no fundo da lama essencial – para acompanhar a culpa, a água que ficou amarga, os restos que favorecem aos ratos, teu beijo que morde minha garganta, que coça minhas raízes, sacode o homem dentro do erro humano das coisas que a um homem nunca foram permitidas. Não são permitidas palavras por necessidade. O mundo é feito de esmolas sonoras e silêncios mal-compreendidos. O texto é triste, eu sei, mas talvez pela escuridão do quarto que os olhos teimam através da luz contígua, dos cílios que pegaram fogo de fronte ao escárnio das cortinas, dos olhos que se apagaram dentro da tua cor sutil, do teu dorso revirado em germes maltrapilhos – minha necessidade –, talvez só por isso eu veja a beleza. Distante mas firme. Como a agonia mensageira de um coração enfartado – mas que ainda movimenta tripas de borco – boiando na solução salgada do amor confundido. Tão longe de ti – de mim tão perto – que fim.

4 comentários:

Anônimo disse...

oi leo. texto incrivel. de tanto texto incrivel atrás de tanto texto incrivel, eles já se tornaram criveis. beijo

Anônimo disse...

E eu que procurava Ilusão e vc é a propria DESilusão! Se supera com ela tornando-se menos, tornando-se homem! Me vingo de vc!
Marie

Anônimo disse...

pelo visto suas cartas-na-manga estão dando certo e a isca foi mordida...
bom texto.

mary

Anônimo disse...

Muito bom. E quando digo muito, é muito.