há uma pessoa que não sabe
quem eu sou e me confia
sangue coagulado na
ferida
da fantasia de ter que
ser mil
para não ser jamais nenhum.
considerar um estranho
como alguém passível
de tamanha melancolia
é uma coisa hoje em dia
da mais alta consideração.
algo do tipo: ali eu vejo
– vejo não, ali eu sinto –
uma sombra que dança
na velocidade da minha,
dois trapezistas diletantes,
no circo do efêmero e nu:
máscaras que caem no
rosto,
o meu, o teu, que se enrijece
de uma fraterna
sensualidade
em que nós somos o ponto,
o cume do equilíbrio
passional
no que se precede a neve
mole
das arapucas e desejos
aéreos
componentes do nosso
charme,
que é o de sermos atores mudos
no cerne de um filme
falante.
com a grande diferença,
no que diz respeito a mim:
fazer conversa de abismo:
alguma maior honraria?
mas algumas amizades
têm poros mais abertos
e a pele de acne dos que
amam com intensidade
as pelancas do desejo.
de ser alguém que dá o
troco
na sombra de alguém
criado
para que esse alguém que cria,
duas faces de moeda
precisa,
exista porque apenas do
corte
absoluto de uma estapafúrdia
linha de fuga acadêmica
demais
para render um poema-escuta,
prefiro chamar poema de orelhão,
em que esteja aquilo que permite
a um despedaçado farejar o
outro.
e que da urina trocada em
medo
cresça uma fúria que, de
comum,
torne-se bendita e quase
um voto
de que os despedaçados têm
imãs
que os permitem ao menos flutuar.

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