alegria é o joão
gilberto
sem saber dirigir
dirigindo
um carro atolado na
lama
lotado com novos baianos:
o amor, a marha
engatada.
alegria são as coxas de
maradona,
os dentes de martha
argerich,
o sorriso complicado
de antônio abujamra,
as mãos gregas e longas
de celso martinez corrêa,
dedos dízimas
periódicas
no gesto de pixinguinha,
nas veias de conceição
tavares
as sobrancelhas de
darcy ribeiro,
áfrica, ou o suor
compartilhado
por corpos fáceis de
carnaval.
alegria é chorar
ouvindo
música pensando só deus
poderia ter criado
isso:
um vento que faz som
e expressa diretamente
à carne, corpo cansado
nas mãos dos bonecos
de deus – isso é
alegria:
ser um boneco de deus
sem pagar nada por
isso.
alegria são velhas e
velhos
poetas que quebram o
nariz
do tempo e nos
perguntam:
vocês ainda sentem prazer?
alegria são os olhos do
cão,
a yoga específica dos
gatos,
bichos com nariz
amassado,
velhos se beijando na
boca,
jovens espertos em
silêncio.
alegria são amigos e
amigas
que se chamam por
apelidos
roubados de livros malditos,
personagens que comunicam
com o movimento do
olhos.
alegria é quem vem de
fora,
decodifica a nobre
sintonia
e oferece algo sem
receitar.
telefones que são
escritos
na poeira de janelas
sujas
nos veículos da
juventude
quando temos quinze
anos
e o amor é a espinha eterna
no centro de uma
aberração
que é nosso maior
esquema.
olhos incendiados pelo
sol
ou uma chuva que se perca.