4.8.22

"você minha primeiríssima"

 

você arrancou  adrenalina

de uma flor de lótus.

nunca foi sorrateira,

pernas e peitos abertos

às doenças dos séculos,

aos homens quebrados,

ao parto sem término

de uma grande explosão.

 

você corre limpa e sem sono

agarrada aos testículos de deus

como um modelo de caravaggio.

 

pequena operária sem descanso,

saiba que há muita gente insone,

olhos graves em quartos escuros,

com mentes iluminadas de amor

por você e por outras como você.

 

é desse tipo a tua legião, ragazzina,

um tipo que sofre rindo e jamais

perde a luz – diz a luz e traz a luz

na selva em que você caminha

com passo de camponês e a fina

tristeza que permite dar as mãos.

 

cavalo selvagem do ancestral,

roqueira pré-chuck-berry-elvis,

anarquista italiana na fissura

de um exílio que não termina,

porque trazemos em nós as ilhas

onde o sol tortura o pensamento

e torna os homens achatados,

atômicos em corpos apertados.

 

e você veio para abrir o corpo,

prima de todos, primeiríssima,

esticar os ossos e fazer tambor

com a pele dos grandes desejos.

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