11.9.21

"meninos brincando na lama com um canivete"

 

                                                           para mané

 

não consigo tocar dentro de mim

nesse menino brincando na lama

com um canivete a quem se basta

terra fértil, sujeira cósmica, sobras

e uma lâmina sem fio com que fiar

magra chance em rinha de milicos.

 

tristeza que de olhos fechados divido

com os camaradas que dormem fundo

como anjos de pedra entre os adornos

no topo de um manicômio em chamas.

 

afugentamos a tristeza com os trapos:

nossas roupas escuras que demoramos

para lavar e usamos do avesso até o pó,

como a invenção do passo numa ponte

que vai desabando atrás de nossos pés.

 

é sempre tarde quando chega nossa hora,

nunca somos bem-vindos nessa vida limpa

que esconde a carne podre entre os dentes.

porque viemos só para passar este recado:

sabemos quem são vocês pelo cheiro podre

e podemos superá-los com sujeira santa.

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