15.8.21

"uma nobre linhagem de desgraças"

 

às vezes só me resta, no frio de um domingo,

quando encontrarei meu pai, que se arrasta,

mas, de algum modo, parece muito mais feliz,

só me resta neste pesadelo de que não posso

ver-me livre então só me resta aqui carregar

uma tocha imaginária que vem dos desastres

de outros incandescentes e cegos como estou

aqui enquanto invento vida de olhos fechados

e toda uma gama de desgraças heroicas afiam

meus olhos e o coração de mil deuses afogam

minha dúvidas num mar bonito e inescapável,

doce imprecisão que, com violência, abraço

e me finjo a mim mesmo de morto outra vez,

cavo a gruta de crusoé no centro da multidão.

estamos juntos na chuva há uns tantos séculos,

a tristeza é a solenidade de uma carne barata,

com ganas de brinquedo e gaiolas de paixão.

 

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