para diego armando mar(ad)ona
fecha a tua mão mais
uma vez,
eu fecho meus olhos
selvagens
e abro naquele mesmo
planeta
de onde vieste baixo e
irritado,
como um tio, toca meus
lábios,
com empáfia, ira e
aguardente,
como um irmão, soca meu
rosto,
ainda por outra vez não
morras
pois não morre um
alienígena,
ou não da forma que
pensamos
conhecermos o que é o morrer,
na boca dos rufiões dos
portos
de todas as bocas
brabas latino-
americanas em que os
anjos são
apenas nomes de rua e
tremores
nas bocas desdentadas
de velhas
que são também minha
avó, eu
que por pouco não pude
possuir
teu nome quando era
também eu
da legião dos envocados
baixos,
eu vejo você um pouco
meu pai,
no que és um italiano
camponês,
de família operária, então
fecha
teus olhos e pensa sou garibaldi,
heroi xamânico em
transe magro,
de madre indígena como herdeiro
dos povos originários
de américa,
dos povos de esquerda
de américa.
e o anticristo gauche em ti se eleva,
e te toca somente do lado
esquerdo,
até implodir as coisas
em sacrifício
então passas feito o
boneco de luz
raspando o bigode reto
do fascista
e do usurpador da
energia alheia,
porque foste tu meu
sanguessuga
na carne turva da minha
infância,
a comparação nominal do
trauma
que me definiu paz
descontrolada,
carnaval do corpo em
puro enlace
de uma decadência tão
doce que é
o tapa na cara do nosso
equilíbrio
mórbido de paredes e
repugnância.
és completo e te
defines compacto
sempre no pico da onda
da morte,
até que passaste bem
lentamente
para o tamanho do estrago
poético,
tua causa, teu mármore
raspado,
como o membro vivo da
família,
veia aberta de um tango
com faca,
impureza que entorta a
hipocrisia
enquanto fecho meus
olhos nativos
e xingaremos hirro de puta a todo
europeu que vaiar nosso
hino pleno
de todo migrante,
vagabundo heroi
de quem em cada viela
há um ícone,
o canal com deus para
todo um país,
mas vieste de outro
mundo e o teu é
um outro deus, que
gostaria também
me levasse ao mesmo céu
que o teu,
eu que sempre fui baixo
e compacto,
sempre irritado com o
que não sabia
dizer do jeito claro
então eu rosnava
e lançava-me nu em
aventura épica,
tu, cristo que falava
palavrão e pinta
com tintas eternas o
traço do trovão,
arco completo da
existência em fúria,
e feito louco soubeste
ganhar e perder,
explodir feito o barril
antidiplomático
que permite definir o sermos
pobres
latino-americano
indígenas operários.