29.9.19

“hesitações de um que duvida”



a noite enforca os parapeitos
dentro da cidade, mas também no mato,
alguém se move lentamente
sobre a fina dúvida de um suspiro.

alguém no fundo da lenda que não surgiu
encobre de gelo uma parada de ônibus
com seus holofotes ao contrário de deus.

é frio quando qualquer um pode
– de repente e muito embora
permaneça no pescoço a cuca –
desaparecer do árduo convívio.

mais estranho é o que diremos quando
o improvável que nos ronda acontecer:
isso é absurdo, não suporto, morrerei.
mas dias depois ancoraremos bombas
em portos repletos de marfim em pó.

é sempre frio quando a noite enforca
a euforia dos segundos em delito
ao tocar-se a beleza pela primeira vez.

vejo brilhar os olhos que derrubam
as manhãs por trás da sua película
que desespera no parto do grupal.

somos uma gangue de medrosos
que desejam a coragem coletiva
mas entregam parágrafos de aço.
este deveria ser um poema curto.

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