agradeço aqui ao teu cigano
que me quebrou duas
costelas
que me rompeu os
ligamentos
e que me disse tantas
vezes:
é perigo, afaste-se,
curve-se
e deixe que ela viva em
paz.
e eu nunca te deixei em
paz
eu nunca obedeci teu
cigano
mas agradeço ao teu cigano
por te fazer mestra e
mistério
da minha total insubmissão.
por este amor que
acumula
poeira em nossa fresta
comum
alguma geleira pelos
cantos
dessa dor maior que
costela
maior que ligamentos
ruins
bem maior que eu e
maior até
que o teu cigano, ai de
mim!
essa poeira, meu amor,
só existe
porque fizemos o nosso canto.
só se suja o que permanece vivo
e ainda não somos todo
um pó
que nos faça duvidar
dessa ideia.
eu nunca vi um amor
limpo
mas vi muitos que na
poeira
não souberam viver um
dia.
teu cigano me exigiu
pular
de olhos abertos e
gritou:
vai doer, vai ser gigantesco
e vai ser impossível
parar
se não for como eu
quero.
deixe que ela viva
plenamente
ele me disse e mesmo
assim
eu me pus ao teu lado e
falei:
anda comigo até no
inferno?
acho que essa coragem
cega
amoleceu o teu cigano
de fé
para que não me
trucidasse.
por isso agradeço ao
cigano
e darei a ele um lindo colar
dos meus ossos mais sadios.
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