26.8.18

"debaixo estou eu alejandra"




faço as pazes com a falha,
teu olho cinza me acalma
dentro do inferno de ferro
que sobrevoa nossos dias.

fugiste pelo mundo, deste
tantas voltas – fiquei aqui.
a mil por hora tu dormiste,
sentada e triste no poema.

eu olho para tua tristeza,
engulo tua voz madrasta
que range feito essa porta
que se abre para o exílio.

é tua a tristeza mais linda,
ficas linda assim horrível.
não me admira tu teres
levado isso tão a serio.

eu também teria amado
a morte, erguido os olhos
para as rachaduras nítidas
na harpa do riso mortal.

amanheço calmo de ti,
tua carne barbitúrica
arremete em todo lugar
contra meus sonhos.

alheia à dor do mundo
entraste no teu buraco
com brios cossacos
na voragem do luto.

te aceito aqui bem morta
como um anjo cinza.
teu sexo feito a mão
sobre o rosto sem traços.

verde úmido de bosta antiga:
húmus ereto do meu descaso.
gongo infantil, cocktail mental;
fantasmas em doce ereção.








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