TODOS
CHORAM AO MESMO TEMPO NO BRONZE DA TIRANIA
(Roberto
Piva)
outrora habitou
palácios de morfina
onde havia filas de
pobres coitados
que rompiam chances com
coragem.
com barriga inchada
caiu o veneno
e nas madrugadas de
roleta russa
ribombaram as janelas
do pânico.
foi sorte ter rasgado
os membros
quando engordou de
afeto
nas muralhas do riso
comum.
agora colhe madeira
fina
e periga um
proprietário
vir tomar o que nem
serve.
já passa da uma, apenas
água
e a projeção
desesperada
de alguma grave
reposição.
sem fadas dorme como um
martelo
cozinha berinjelas com
alho e cebola
maneja a vida nova com leme
curto.
de modo obsessivo teve
medo do chão
lambeu o chão de que
teve medo
foi pomba aleijada que
verso não salva.
ainda assim fica a
faísca de uma roda
alguns bons camaradas
reptilianos –
a promessa de uma
jornada ao frio.
outrora patinou pelas
ruas com mil quilos
todo peso do
mundo
na explosão de uma
pena.
com seqüelas inevitáveis
busca nas lacunas
reaprender o que de essencial
carrega
essa vontade ancestral
de espatifar-se.
talvez porque apenas pode ver o que se
quebra
um lindo pássaro que
pulsa diante da janela fechada
– a felicidade sempre se
apresentou assim.
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