13.1.18

“pelas costelas quebradas”


TODOS CHORAM AO MESMO TEMPO NO BRONZE DA TIRANIA
(Roberto Piva)

outrora habitou palácios de morfina
onde havia filas de pobres coitados
que rompiam chances com coragem.

com barriga inchada caiu o veneno
e nas madrugadas de roleta russa
ribombaram as janelas do pânico.

foi sorte ter rasgado os membros
quando engordou de afeto
nas muralhas do riso comum.

agora colhe madeira fina
e periga um proprietário
vir tomar o que nem serve.

já passa da uma, apenas água
e a projeção desesperada
de alguma grave reposição.

sem fadas dorme como um martelo
cozinha berinjelas com alho e cebola
maneja a vida nova com leme curto.

de modo obsessivo teve medo do chão
lambeu o chão de que teve medo
foi pomba aleijada que verso não salva.

ainda assim fica a faísca de uma roda
alguns bons camaradas reptilianos –
a promessa de uma jornada ao frio.

outrora patinou pelas ruas com mil quilos
                                 todo peso do mundo
                           na explosão de uma pena.

com seqüelas inevitáveis busca nas lacunas
reaprender o que de essencial carrega
essa vontade ancestral de espatifar-se.

         talvez porque apenas pode ver o que se quebra
um lindo pássaro que pulsa diante da janela fechada
                 – a felicidade sempre se apresentou assim.

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