22.8.17

"para meu amor, da cidade de gelo"


eu sinto muito, meu amor
que a rainha dos dragões
não poderá de fato salvar
o tal mundo de gelo nosso
e que as coisas perderão
mais uma vez o sentido
depois que não há mais
dragões cuspindo fogo
nem donzelas platinadas
ou sanguinários atraentes.

mas o que sinto por você
quero que também saiba
cuspir fogo para manter
pulsante o que é de gelo
no jogo entre selvagens
o escambo entre zumbis
a grande muralha de fel
e que a nossa imaginação
seja capaz de cuspir fogo
ainda por muitas dinastias.

andar no fogo é preciso
para manter os dragões
seguros e dóceis e a crise
do outro lado do fim.

os impérios são fantasias
e os escombros da causa
sobrevoam nossas ruínas.

não é possível afinal
que alguém siga
do gelo ao fogo em tão pouco tempo.

provavelmente a partir de agora os dragões
monstros lindos que todos aguardamos
terão olhos frios e fuzilarão com neve
a nossa parca cidadela.

não haverá os intervalos eletrizantes
enquanto nada mais no mundo acontecia
e nós sonhávamos com deusas mexicanas platinadas
voando por sobre a costa das montanhas
com seu eunuco de estimação.

a cidade dos nossos sonhos não existe mais
e precisamos engolir os restos
para excretar nossa imaginação.

e assim criar novos monstros alados
que se moldem com singeleza nos bolsos do nosso afeto
e que possamos nomear enquanto desaparecemos.

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